sexta-feira, 2 de junho de 2017

Dor

Dói.
Saber que nunca seremos o que ele procura, o que ele precisa, o que ele quer. E culpamos-nos a nós próprios, por não sermos suficientemente bonitos, interessantes, magros, altos, baixos, loiros, morenos, ruivos, seja o que for.
Olhamos para o espelho e só vemos o negativo. O superficial, que muitas das vezes não corresponde às nossas expectativas. E massacramos-nos a nós mesmos, a culpa é nossa por não corresponder aos padrões da sociedade. A dor é nossa, só nossa e sempre será.
Dói saber que esta batalha que temos contra nos próprios nunca será ganha, pelo contrário, estamos destinados a perder, mas isso não nos impede de nos odiar. Cada centímetro do nosso corpo, de cima abaixo, de baixo para cima.
Não me consigo lembrar da última vez que olhei para um espelho e gostei do que vi. Da última vez que disse ou pensei algo positivo sobre mim mesmo. Da última vez em que não chorei para adormecer, sabendo como me iria sentir mal no dia seguinte. E no próximo. E depois desse, também.
Não sei o que sinto, mas sei o que quero sentir. Quero sentir-me feliz comigo mesmo, mas é tão difícil. É mesmo muito difícil.
Às vezes penso que seria melhor desaparecer.
Como seria bom, não me sentir todos os dias cansado, com raiva. Como é bom estar deitado na cama, a olhar para o nada, a pensar em nada. Simplesmente estar ali, a existir, a respirar. A dor continua lá, mas por momentos, fica camuflada.
O nada acolhe-me. Embala-me nos piores dias, faz a dor e o ódio desaparecer momentaneamente.
Mas não sei se isso é um bom sinal.
Talvez esteja destinado a nada. Talvez o nada seja o que eu deva fazer, talvez a minha existência não tenha um propósito concreto.
E, acreditem, isso dói.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A praia

Portugal, 2015.

O sol estava quase a pôr-se, dando uma tonalidade alaranjada naquela atmosfera paradisíaca.

Eduardo estava sentado na areia da praia. O vento tinha feito com que o seu cabelo ficasse totalmente desarrumado, mas não se importava. Adorava o cheiro do oceano e a textura da areia branca nos seus pés.
Para animar aquele dia, havia uma festa ali perto, na mesma praia. Via-se casais por todos os lados, a beijarem-se e a consumirem bebidas alcoólicas de uma maneira irresponsável.
Eduardo levantou-se e dirigiu os pés nus para o mar. A água estava morna, o que era normal para aquela região do sul. Flectiu os joelhos e pôs-se a procurar conchas. Mesmo ao seu lado estava uma concha  de uma coloração azulada com pontinhos escuros. Uma beleza rara de se contemplar.
Sorriu e guardou-a no bolso e decidiu voltar para a areia. Como estava a ficar demasiado frio, aderiu os dedos na mochila que trazia consigo e retirou de lá uma toalha, enroscando-se nela.
Passaram-se cerca de quinze minutos quando Eduardo ouviu um barulho atrás de si e virou o pescoço para a origem do som.
- Tomás! - exclamou, levantando-se num salto. Correu até o rapaz, abraçando-o com força. - Viestes!
O rapaz envolveu também os seus braços na silhueta magra de Eduardo, sorridente. - Tinhas dúvidas?
- Claro que não.
Eduardo levou os dedos até ao couro cabeludo do namorado, despenteando-o carinhosamente - Tinha tantas saudades tuas.
- Também eu. - Colocou a cabeça sobre o ombro do namorado- Estás aqui há muito tempo?
- O tempo suficiente - Eduardo parou de remexer nos caracóis de Tomás e levantou-se. Puxou a mão do namorado e guiou-o até à água. - Anda.
- O que foi? - perguntou Tomás.
- Hoje encontrei esta concha aqui. - retirou a beleza natural do bolso e mostrou-a. - Fica com ela. Será uma lembrança quando fores para o Porto.
Tomás aceitou a prenda de bom grado, costurando um sorriso tristonho no rosto. - Vou ter tantas saudades tuas...
- Ei. - Eduardo levou os dedos até ao queixo do outro, levantando-lhe o rosto com suavidade. - Não vamos começar com tristezas.
Tomás abraçou-o com toda a força que tinha e, logo após, beijou-o. Um beijo carinhoso e, ao mesmo tempo, desajeitado, do jeito que Eduardo gostava. - Todos os dias olho para ti e percebo a sorte que tenho de te ter ao meu lado.
- Sabes que sempre vou estar lá para ti, não sabes? - perguntou Eduardo, passando a mão pelo rosto do outro.
- Até o mundo acabar.



O pedido de casamento

Nova Iorque, 2015.

Não sabia o que se estava a passar. Eram cinco e vinte e oito da tarde e a sua melhor amiga, Jodie, tinha-lhe ligado e dito para vestir a melhor roupa que tinha, porque ela ia-o buscar a casa em quinze minutos.
Noah tentou apressar-se e vestiu o que ele achou que tinha de melhor: uma camisola cinzenta (era a sua cor favorita), umas calças justas pretas e umas botas do estilo militar, também pretas. Penteou o cabelo com os dedos e, no momento em que ia tentar jantar uma coisa rápida, foi interrompido pela campainha. 
Já?, pensou, olhando para o relógio. Veio mais cedo do que o combinado. 
Noah deu uma última olhadela no espelho e deu uso às botas, enfileirando-as pelas escadas abaixo, onde deu de caras com Jodie, que se aperaltava no reflexo da porta de vidro do prédio enquanto esperava.
- Noah! Vamos. - Jodie entrelaçou o braço no do amigo, liderando-o até ao carro. - Temos uma surpresa para ti.
- Temos? Onde vamos? - perguntou o loiro, mas não obteve nenhuma resposta.
Entraram no carro e seguiram caminho.
Foi uma viagem consideravelmente curta. Pararam num restaurante pequeno e rústico, mesmo ao lado de uma escola secundária. A mesma escola que Noah e Jodie frequentaram.
Jodie foi a primeira a sair do carro, seguida pelo loiro. - Jodie, deixa-te de brincadeiras. O que é isto tudo?
- Entra e verás. - disse, entrando sem dar qualquer explicações.
Pensou em telefonar para o seu namorado, explicar-lhe o comportamento estranho que Jodie estava a ter, mas esse pensamento foi interrompido quando ouviu Jodie gritar para ele entrar.
Empurrou a porta com as duas mãos e entrou, notando que não havia qualquer mesas naquele restaurante. Todo o espaço tinha sido completamente limpo, à excepção do balcão de atendimento.
Focou os olhos na amiga. - O que se está a passar?
Jodie, que estava à frente do balcão, deu alguns passos para o lado, revelando Logan mesmo atrás dela. Estava com um fato preto elegante e um laço vermelho com bolas brancas. O cabelo estava perfeitamente penteado para o lado, como sempre. Nas mãos dele estavam também um lindo ramo de flores.
Noah ergueu as sobrancelhas e deu mais alguns passos em frente. - Logan? O que fazes aqui?
O namorado saiu de trás do balcão e costurou um sorriso enorme no rosto moreno. Avançou contra Noah, entregando-lhe as flores. - O nosso primeiro encontro foi aqui, neste pequeno restaurante. - Volveu os olhos pelo local, prosseguindo - Claro, estava mais bonito, cheio e mobilado, mas isso não interessa. Foi aqui onde tudo começou.
Noah olhava tanto para as flores como para Logan, com uma expressão completamente confusa no rosto.
Como Logan não obteve nenhuma resposta, continuou o discurso. - Eu ainda era uma pessoa assustada e com medo das opiniões dos outros. Vivia para agradar a todos menos a mim próprio. - caminhou para o lado de Noah, ficando ainda mais perto dele. - Olho para mim hoje e estou tão orgulhoso do que me tornei. Do que nos tornámos juntos. - deu uma pequena pausa para dar um suspiro fundo. - Tu completas-me, Noah. Eu sinto que nós estamos destinados a ficar juntos para sempre. Eu não consigo viver sem os teus comentários de moda, ou sem os teus pequenos almoços queimados, ou o teu sorriso. Tudo o que eu hoje sou, é por causa disto. - E apontou para ambos. - Do que nós temos. Desta ligação perfeitamente imperfeita.
Noah deu um longo suspiro e podia-se notar o brilho nos seus olhos, como se fosse chorar a qualquer momento. - Meu Deus, Logan... não sei o que dizer...
O moreno retirou uma caixa de veludo do bolso do fato, estendendo-a para Noah. Com um único movimento dos dedos, abriu a caixa, revelando um lindíssimo anel de ouro. - Noah Lancaster, meu único e verdadeiro amor. - disse, colocando-se de joelhos. - Aceitas casar-te comigo?
Noah não conseguiu conter-se. As lágrimas começaram a jorrar dos olhos azuis como o céu, percorrendo toda a face até ao queixo. O loiro sobrepôs uma mão nos lábios, tentando esconder a expressão surpresa. Após alguns minutos de silêncio, Noah retirou o anel da caixa com extremo cuidado. - Sim! - disse, por fim, colocando a jóia no dedo anelar. - Sim, mil vezes sim!
E beijaram-se.
Durante o beijo, Noah lembrou-se de cada momento que passaram juntos. As discussões, as gargalhadas, os choros, os abraços, as desilusões. E, no final de tudo, sentiu-se abençoado, rezando para que aquele momento se eternizasse para todo o sempre.


Talvez um dia eu encontre o amor...

Vejo casais todos os dias, felizes, beijoqueiros e sempre com as mãos dadas. A sorrirem uns para os outros, a criarem momentos juntos e a eternizarem histórias.
Alguns posts daqui, como por exemplo: ''O baile'' ou ''Viagem de finalistas'', são histórias que exprimem os meus desejos. O desejo de ter um namorado perfeito, por exemplo. Uma chance de amar e receber amor. Alguém com quem eu realmente possa contar para todos os momentos da minha vida, porque ele vai vivê-los todos ao meu lado, proteger-me e aconselhar-me. Vai saber quando eu estou triste e vai abraçar-me, dizer que tudo vai ficar bem. Vai beijar-me quando perceber que eu não estou nos meus melhores dias. Vai chegar perto de mim e dizer: Amo-te. Vai surpreender-me com flores e frases super românticas que muitos acham pirosos, mas que eu simplesmente adoro.
Sinto-me muito sozinho, principalmente por não ter essa pessoa. É claro, tenho amigos e eu sei que eles me adoram assim como eu os adoro, mas não é a mesma coisa. Vejo-os com os namorados e namoradas e olho para mim e pergunto-me qual é o meu problema. Será que não mereço o amor? Não mereço uma chance de encontrar a minha alma gémea?
Estão sempre a dizer-me: ''Calma, tens apenas dezassete anos. Ele vai aparecer um dia.'' Isso é fácil de dizer quando já se tem o que quer. Ninguém entende como é, porque só eu posso realmente me compreender.
Beijem tanto quanto podem, sorriam, abracem. Aproveitem essa ligação especial que vocês têm e que muitos invejam e, acima de tudo, sejam felizes.



A última carta

Londres, 7 de Julho de 2013.

Olá, Andrew.

Não sei muito bem o que escrever, não é como se fizesse alguma diferença agora. Sinto a tua falta. Decidi escrever esta carta para tentar amenizar a dor que sinto, mas acho que não está a resultar. Cada palavra que escrevo, cada pensamento meu sobre ti só me faz sentir pior comigo mesmo. 
Por que fizestes isto, Andrew? Quer dizer, eu compreendo em parte o porquê, mas não concordo. Eu sei como era difícil para ti, mas também era difícil para mim! A pressão a que eu estava submetido, não podia deixar que ninguém descobrisse sobre nós.
Apesar de não o mostrar na frente de ninguém, os meus sentimentos por ti eram reais. E tu sabias disso. Todos os beijos, todas as mensagens, todos os carinhos e todas as palavras que trocámos um com o outro - nada disso importa mais. 
Eu devia ter impedido eles de te machucarem. Apesar de eles nunca terem encostado um dedo em ti, eles te magoavam psicologicamente. Era a minha obrigação como teu namorado proteger-te de tudo e todos, mas não consegui proteger-te de ti próprio.
No dia em que te encontraram no teu quarto, com uma corda agarrada ao teu pescoço, eu simplesmente não conseguia compreender o que se estava a passar. Era tudo demasiado surreal para mim.
Eu amo-te tanto, Andrew. Oh, Deus, se amo. Nunca pensei em dizer isto tão cedo na minha vida, mas eu amo-te e não tenho vergonha de o admitir, não mais.
Chega de mais lágrimas desperdiçadas, de noites sem-fim, atormentadas por horríveis pesadelos.
Sei que a vida foi um inferno para ti, mas espero que tenhas encontrado paz na morte.
E, com isto escrito, eu dou o meu último suspiro. O meu corpo e alma estão totalmente em paz. Está na hora de me receberes na tua utopia infinita.

Com muito amor e carinho, Nathan.


O baile

Nova Iorque, 2015.

Era a noite do baile.

Ainda não acreditava que aquele era o último ano antes de ingressar para a Universidade. Eric voltou-se para o espelho e suspirou fundo. Não podes deixar que a ansiedade te vença, pensou para si mesmo.
Terminou de dar o nó na gravata e, depois de muito ponderar se ia ou não, desceu as escadas, deparando-se com James no meio do hall de entrada. O namorado trazia consigo um ramo de exorbitantes flores de todos os tamanhos e feitios. 
- James? Não te ouvi chegar. - disse, continuando a descer as escadas. - Estás à minha espera há muito tempo?
- Não te preocupes, acabei de chegar. A tua mãe deixou-me entrar. - disse o moreno, apontando para a anteriormente citada, que se levantou prontamente da poltrona de veludo e aproximou-se do casal, ostentando uma máquina fotográfica de última geração.
- Uma foto antes da grande noite. - disse Helena, a mãe, com um enorme sorriso, indicando com a mão para que Eric se aproximasse de James. - Estou muito orgulhosa de ti, querido.
Evitou rolar os olhos. Aproximou-se do namorado, colocando-se de frente para este. Segurou no ramo de flores e costurou um enorme sorriso no rosto pálido, fixando os olhos nos de James. 
A pose era simplesmente perfeita - um pouco exagerada para um baile de finalistas, mas mesmo assim, era perfeita. 
- Muito bem, que tenham uma ótima noite. Espero-te em casa às vinte e três. - Deu um beijinho na bochecha a cada um e seguiu o seu caminho para a sala de estar, voltando a costurar.
- Estás pronto? - perguntou o moreno.
- Sim. - agarrou na mão do namorado e guiou-o para a saída da casa, tentando parecer o mais descontraído possível.
***
Chegaram à entrada da escola. O recinto estava cheio de estudantes, a maioria bem-vestidos. James foi o primeiro a sair do carro, abrindo a porta do lado do Eric, ostentando um enorme sorriso. - Esta vai ser a nossa noite.
Eric não respondeu. Estava mais nervoso do que alguma vez esteve, simplesmente agarrou na mão do namorado e deixou-se ser liderado até ao ginásio, o local principal do baile.
Porém, mesmo antes de entrar, Eric regrediu alguns passos, o que chamou a atenção de James.
- O que foi? - perguntou.
- Não sei se consigo fazer isto. - respondeu apressadamente. - Todos os olhares que vamos receber... acho que não estou preparado.
James aproximou-se de Eric e abraçou-o. 
Por incrível que pareça, Eric sentiu-se momentaneamente seguro, ali, envolto dos braços da pessoa que mais ama à face da terra. Todas as inseguranças, preocupações, medos, tudo isso tinha desaparecido.
- Não vais estar sozinho. Eu vou estar lá para ti. 
Olhou para a frente e notou a expressão genuína no rosto do seu único e verdadeiro amor. - Tens razão. - disse por fim.
E entraram.
À medida que ia assimilando toda aquela atmosfera artística, Eric volveu os olhos ao redor de todo aquele ambiente. Tudo parecia estar em perfeita sintonia. As decorações antiquadas, com as cadeiras em madeira, as mesas de mogno, música dos anos oitenta, entre outros.
James envolveu-o pela cintura e Eric apoiou as mãos nos ombros dele. O perfume do namorado era extremamente doce, tal e qual como Eric gostava. 
- Estão a olhar para nós?
- Não sei. Isso importa? - perguntou James, levantando um pouco mais as mãos. Sorriu para o loiro e continuou a dançar ao ritmo da música romântica. Tudo estava incrivelmente perfeito naquela noite.
- Este é o nosso último ano juntos. - disse Eric com uma voz subitamente carregada de tristeza.
- Eu sei. - respondeu o outro. - Nada disso interessa. Estamos juntos aqui e agora e sempre vamos estar, desde que nos lembremos deste momento.
Eric sentiu as bochechas pálidas a serem invadidas por algumas lágrimas. O facto de nunca mais poder ver (ou pelo menos, não tanto como desejava) o namorado fazia-o sentir-se incompleto. Como se algo lhe fosse faltar para todo o sempre. Apoiou a cabeça no ombro de James e deixou-se levar pela melodia melancólica do baile, desejando genuinamente que aquela noite nunca terminasse.


Viagem de finalistas

Londres, 2015.

Nicholas estava sentado na sua cama do hotel. 

Tinha sido uma longa viagem, mas valera a pena. A atmosfera melancólica de Londres fazia-o sentir, estranhamente, melhor. Ao seu lado estava um livro de Agatha Christie, uma das suas autoras favoritas. Além disso, encontrava-se também uma caneca de café já frio e uma data de folhas rabiscadas com alguns versos desinteressantes. Não sabia o que fazer naquela noite gelada. Já tentara dormir, porém falhara miseravelmente.
Encontrava-se em Londres devido à viagem de finalistas, organizada pela sua professora de Inglês. Com ele, no quarto, estava o seu namorado, Charles.
Levantou-se com cuidado e calçou as pantufas peludas que estavam debaixo da cama, dirigindo-se até à varanda do hotel, onde percorreu os dedos pela porta de vidro, puxando-a. 
O barulho da porta emperrada acordou Charles. O aspecto informal deste causou uma risada nada intencional em Nicholas, que usou a mão para abafá-la com a maior rapidez que pôde, embora ainda se conseguisse ouvir alguns resquícios das gargalhadas. Não era comum Charles ter o cabelo tão desleixado e espevitado, de tal forma que se podia muito bem notar os caracóis negros e rebeldes que ali protestavam contra as quantidades grandessíssimas de gel, além de spray, que era expostos diariamente.
- Desculpa. - disse finalmente Nicholas, voltando à sua cama somente para pegar a chávena de café gelada. O café sabia-lhe melhor assim.
- Que horas são? - perguntou o outro, puxando prontamente o telemóvel debaixo da almofada. - Duas e vinte e seis da manhã? Por que estás acordado?
- Não conseguia dormir. - disse o loiro, virando-lhe as costas. Incitou os pés até à varanda, voltando a puxar a porta para o lado até a abrir na totalidade.
Em seguida, volveu os olhos escuros pela atmosfera nocturna que reinava naquela cidade cinzenta, encantado pela visão que estava a receber. Pontinhos dourados, todos eles muito afastados uns dos outros. Estrelas, se preferirem. Raras belezas que completavam aquele imenso céu negro. E, por poucos segundos, observou um traço amarelo a cobrir parte dos pontinhos minúsculos. Percorria o céu como se nada fosse, desaparecendo quase instantaneamente.


Ouviu um barulho. Era Charles, que acabara de entrar na varanda, fechando a porta atrás de si para evitar arruinar a eficácia do aquecedor de quarto.
- Somos tão poucos. Pensei que fossemos mais.
- Sim. - disse, virando-se para o moreno. - Muitos desistiram de vir.
- Eles é que perdem. - coçou a nuca e tirou a chávena das mãos de Nicholas, bebericando-a. - Isto está gelado.
Nicholas abriu um sorriso genuíno e apoiou as mãos nas extremidade da varanda. Inclinou um pouco a cabeça e viu a imensidão que era o hotel. Eles estavam, muito provavelmente, num dos últimos andares do edifício.
- Este lugar tem alguma coisa mágica. Esta atmosfera é simplesmente perfeita.
- Concordo contigo. Esta viagem de finalistas foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida. - disse Charles, apoiando a caneca numa pequena mesa de vidro ao seu lado.
Nicholas olhou para Charles e costurou outro sorriso no rosto, apoiando a cabeça num dos ombros dele. - Amo-te.
- Também te amo - respondeu o moreno. - Tenho tanta sorte por te ter ao meu lado.
Nicholas puxou-o contra si e abraçou-o como se aquela fosse a última noite de sempre.
- Para sempre juntos?
- Para sempre juntos.
E beijaram-se. Nunca um beijo soube tão certo como aquele. Naquele preciso momento e local, nada mais importava.